quarta-feira, 9 de abril de 2014

Levantamento aponta 20 crianças mortas ao dirigir cinquentinhas

 / Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem





Do JC Online

Margarette Andrea

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

     Franzino, ar sério, sem camisa e de alpercatas no pé, Saulo (nome fictício) tem apenas 12 anos, mas já pilota uma cinquentinha – veículo ciclomotor de até 50 cilindradas. O menino ajuda o pai numa oficina de Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, levando veículos do tipo para lavar, por uma via cheia de curvas, onde, além dos carros, passam ônibus nos dois sentidos. O pai alega não ter medo porque o percurso é pequeno. Os números provam o contrário.


     Em 2013, pelo menos 20 crianças menores de 13 anos morreram em acidentes com as cinquentinhas no Estado, segundo levantamento do Comitê de Prevenção aos Acidentes de Moto em Pernambuco (Cepam). “É uma epidemia”, alerta o coordenador-executivo da entidade, o médico João Veiga. “Fizemos a contabilidade até o último dia do ano, no IML, mas podia haver pessoas internadas e esse número ser maior.”

  O Cepam realizou pesquisas de campo no Recife, Petrolina, Caruaru, Araripina e Ouricuri. “No interior a situação é ainda mais grave. Flagramos meninos de 8 anos pilotando”, declara Veiga. “Eles usam a motocicleta, sobretudo, para ir à escola ou trabalhar, a maioria sem capacete. Há uma conivência dos pais, dos colégios, dos agentes de trânsito.”

    O médico informa que a Operação Lei Seca será realizada também durante o dia, para fiscalizar as cinquentinhas. “É tarefa dos municípios, mas estão adiando demais. Se não há placas, vamos multar pelos chassis e apreender os veículos. Menores não podem pilotar.”

  O Recife sancionou lei para emplacamento e regularização das cinquentinhas em novembro, com previsão de começar a aplicá-la em janeiro, mas até agora nem sequer publicou decreto regulamentando-a. Sem isso, não há como identificar os proprietários e nem mesmo a quantidade de veículos em circulação. Estima-se 150 mil.

   A Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) limitou-se a enviar nota informando que já finalizou a redação do decreto e agora trabalha no ajustamento do sistema que fará o cadastro. Não deu, contudo, previsão para iniciar o emplacamento e a fiscalização.

   Até lá, Saulo e outras crianças (o JC flagrou pelo menos três menores na Zona Norte ontem, um deles fazendo piruetas arriscadas) continuam dirigindo sob os olhos de todos e a crença das famílias de que nada vai acontecer. “Sei que é um crime, estou errado. Ele já foi parado três vezes por policiais, com armas na cara. Mas só deixo porque é pertinho”, disse o pai do garoto, que tem outro filho de 15 anos no serviço de “piloto”.

Fonte: Jornal do Commercio

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