terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A Europa e o trânsito — Uma história de sucesso

No ano 2020, segundo dados da OMS e do Banco Mundial, o número de mortos em decorrência de acidentes de trânsito poderá superar as vítimas de aids e de derrame cerebral




Jean Todt, desde 1993 chefe da Escuderia Ferrari que com Michael Schumacher marcou época e atual presidente da FIA, em entrevista à revista alemã “ADAC Motorwelt” de outubro comenta: “No ano de 2009  morreram no mundo 1,3 milhão de pessoas em acidente de trânsito e 90% destas vítimas morreram nos países do Terceiro Mundo. Caso não tomarmos medidas, esta cifra poderá aumentar a 2 milhões até o ano de 2020.” 

Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Banco Mundial, além dos mortos deverão ser contabilizados mais 50 milhões de feridos anuais e já há prognósticos de que até o ano de 2020 o número de mortos no trânsito poderá superar as vítimas da aids e do derrame cerebral juntos. Ambas as afirmações, a de Jean Todt e a da OMS, são alarmantes.

Apesar das vicissitudes com as quais a Europa se confronta, este Continente mesmo assim tem histórias de sucesso que merecem ser discutidas, comentadas e divulgadas. Uma destas é a obstinação com a qual países

europeus trataram e seguem tratando de   melhorar a segurança viária. Nesta área a maioria dos 27 países da Comunidade Europeia tem feito progressos dignos de registro. Mesmo países como Portugal e Grécia que, antes de se filiarem à CE em 1986, eram lamentáveis campeões mundiais em estatísticas de mortos também  fizeram, desde então, enormes progressos. Na Alemanha começou-se a registar as estatísticas de acidentes no trânsito já no ano de 1957. Outros países seguiram o exemplo nos anos subsequentes. A tabela a seguir mostra o desenvolvimento em  alguns países da CE. As cifras dos países europeus não incluídos nesta tabela são, sem exceção, decrescentes.



O total de pessoas mortas no trânsito em 15 países da CE em 1980 foi de 63.644. Em 2008 esta cifra baixou para  25.427, o que corresponde a um decréscimo de 60% no período de 28 anos.  Por razões práticas partimos do ano de 1980, pois alguns países somente começaram com a coleta de dados no fim da década de 70 e os dados de outros, antes desta data, não são confiáveis.  

A Alemanha, por exemplo, no ano de 1980 registrou 15.050 mortos. Naquele ano  havia no país 27,1 milhões de veículos em circulação.  Em 2008 o número de veículos em circulação cresceu para 49,3 milhões de unidades, mas foram registrados “apenas” 4.477 mortos. Em outras palavras, aumentou consideravelmente o número de veículos em circulação e aumentou o número de acidentes, mas decresceu o número de mortos. Eis os números da Alemanha:



(Nos países do Terceiro Mundo este desenvolvimento é inverso: quanto mais veículos, tanto mais mortos). 

Felizmente este desenvolvimento satisfatório não é somente um desenvolvimento da Comunidade Europeia. Outros países não europeus também registram números decrescentes. Vejamos alguns exemplos:


Uma comparação internacional de acidentes com mortes por 100 mil habitantes revela índices  mais convincentes:


A média da Europa 27 (CE) é de  7,9; na África este índice é de 28,3 e nos países ao leste do Mediterrâneo 26,3, o que confirma as observações de Todt .

Fenômeno interessante pôde ser registrado na Alemanha que, desde o início dos registros no ano de 1957, sofreu uma excessão em sua estatística decrescente: logo após a Reunificação em 1990  houve um crescimento tanto em número de acidentes como em número de mortes conforme mostra o gráfico seguinte:


O maior aumento em número de vítimas registrou-se exatamente no ano seguinte à Reunificação, isto é, de 1990 a 1991 conforme mostra a tabela acima. Mas já no ano 2000 este número baixou para índices antes da Reunificação. O aumento registrado a partir do ano de 1991 deve-se ao fato de que, de uma dia para outro, houve maior número de automóveis em circulação  e houve mais acidentes. Além disso as estradas na  Alemanha Comunista estavam em péssimas condições e os veículos, do ponto de vista técnico, com um deplorável atraso de mais de meio século.

São vários os fatores que contribuíram para a redução de vítimas na Europa: em 1974 foi introduzido na Alemanha o uso obrigatório do cinto de segurança e só esta medida reduziu em um terço os acidentes fatais (e ainda há motoristas que se negam a usá-lo) e diminuíram sensivelmente os acidentes com ferimentos graves. Graças à eletrônica foram introduzidos novos dispositivos de segurança que tornaram os veículos mais seguros. Os países europeus investiram enormes somas em construção e melhoramento de rodovias. Muitas montadoras e entidades particulares oferecem cursos de direção segura e as autoridades responsáveis não poupam esforços em campanhas e esclarecimento públicos. Os resultados são visíveis, mas, mesmo com tal progresso, os esforços continuam.

Apesar dos melhoramentos técnicos introduzidos na construção automobilística o condutor continua sendo a “peça” mais importante e ao mesmo tempo a “peça” mais fraca do automóvel. Estudos realizados em vários países da Europa revelam que em 99% dos acidentes a falha é humana, ou seja, do condutor. Vale, portanto, mudar o condutor, ou melhor, o seu comportamento. Mas, como sabemos, é esta a “peça” mais difícil de mudar. Isto não é um problema europeu. É universal.

**(Os dados citados nesta matéria são do Bundesantalt für Strassenwesen, uma autarquia alemã ligada ao Ministério dos Transportes. Para o leitor que quiser se aprofundar as informações estão disponíveis em alemão e inglês. Site: www.bast.de).

Fonte: Jornal Opção




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