No ano 2020, segundo dados da OMS e do Banco
Mundial, o número de mortos em decorrência de acidentes de trânsito poderá
superar as vítimas de aids e de derrame cerebral
Jean Todt, desde 1993 chefe da Escuderia Ferrari que com Michael
Schumacher marcou época e atual presidente da FIA, em entrevista à revista
alemã “ADAC Motorwelt” de outubro comenta: “No ano de 2009 morreram no
mundo 1,3 milhão de pessoas em acidente de trânsito e 90% destas vítimas
morreram nos países do Terceiro Mundo. Caso não tomarmos medidas, esta cifra
poderá aumentar a 2 milhões até o ano de 2020.”
Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Banco
Mundial, além dos mortos deverão ser contabilizados mais 50 milhões de feridos
anuais e já há prognósticos de que até o ano de 2020 o número de mortos no
trânsito poderá superar as vítimas da aids e do derrame cerebral juntos. Ambas
as afirmações, a de Jean Todt e a da OMS, são alarmantes.
Apesar das vicissitudes com as quais a Europa se confronta, este
Continente mesmo assim tem histórias de sucesso que merecem ser discutidas,
comentadas e divulgadas. Uma destas é a obstinação com a qual países
europeus
trataram e seguem tratando de melhorar a segurança viária. Nesta área a
maioria dos 27 países da Comunidade Europeia tem feito progressos dignos de
registro. Mesmo países como Portugal e Grécia que, antes de se filiarem à CE em
1986, eram lamentáveis campeões mundiais em estatísticas de mortos também
fizeram, desde então, enormes progressos. Na Alemanha começou-se a
registar as estatísticas de acidentes no trânsito já no ano de 1957. Outros
países seguiram o exemplo nos anos subsequentes. A tabela a seguir mostra o
desenvolvimento em alguns países da CE. As cifras dos países europeus não
incluídos nesta tabela são, sem exceção, decrescentes.
O total de pessoas mortas no trânsito em 15 países da CE em 1980 foi de
63.644. Em 2008 esta cifra baixou para 25.427, o que corresponde a um
decréscimo de 60% no período de 28 anos. Por razões práticas partimos do
ano de 1980, pois alguns países somente começaram com a coleta de dados no fim
da década de 70 e os dados de outros, antes desta data, não são confiáveis.
A Alemanha, por exemplo, no ano de 1980 registrou 15.050 mortos. Naquele
ano havia no país 27,1 milhões de veículos em circulação. Em 2008 o
número de veículos em circulação cresceu para 49,3 milhões de unidades, mas
foram registrados “apenas” 4.477 mortos. Em outras palavras, aumentou
consideravelmente o número de veículos em circulação e aumentou o número de
acidentes, mas decresceu o número de mortos. Eis os números da Alemanha:
(Nos países do Terceiro Mundo este desenvolvimento é inverso: quanto
mais veículos, tanto mais mortos).
Felizmente este desenvolvimento satisfatório não é somente um
desenvolvimento da Comunidade Europeia. Outros países não europeus também
registram números decrescentes. Vejamos alguns exemplos:
Uma comparação internacional de acidentes com mortes por 100 mil
habitantes revela índices mais convincentes:
A média da Europa 27 (CE) é de 7,9; na África este índice é de
28,3 e nos países ao leste do Mediterrâneo 26,3, o que confirma as observações
de Todt .
Fenômeno interessante pôde ser registrado na Alemanha que, desde o início
dos registros no ano de 1957, sofreu uma excessão em sua estatística
decrescente: logo após a Reunificação em 1990 houve um crescimento tanto
em número de acidentes como em número de mortes conforme mostra o gráfico
seguinte:
O maior aumento em número de vítimas registrou-se exatamente no ano
seguinte à Reunificação, isto é, de 1990 a 1991 conforme mostra a tabela acima.
Mas já no ano 2000 este número baixou para índices antes da Reunificação. O
aumento registrado a partir do ano de 1991 deve-se ao fato de que, de uma dia
para outro, houve maior número de automóveis em circulação e houve mais
acidentes. Além disso as estradas na Alemanha Comunista estavam em
péssimas condições e os veículos, do ponto de vista técnico, com um deplorável
atraso de mais de meio século.
São vários os fatores que contribuíram para a redução de vítimas na
Europa: em 1974 foi introduzido na Alemanha o uso obrigatório do cinto de
segurança e só esta medida reduziu em um terço os acidentes fatais (e ainda há
motoristas que se negam a usá-lo) e diminuíram sensivelmente os acidentes com
ferimentos graves. Graças à eletrônica foram introduzidos novos dispositivos de
segurança que tornaram os veículos mais seguros. Os países europeus investiram
enormes somas em construção e melhoramento de rodovias. Muitas montadoras e
entidades particulares oferecem cursos de direção segura e as autoridades
responsáveis não poupam esforços em campanhas e esclarecimento públicos. Os
resultados são visíveis, mas, mesmo com tal progresso, os esforços continuam.
Apesar dos melhoramentos técnicos introduzidos na construção
automobilística o condutor continua sendo a “peça” mais importante e ao mesmo
tempo a “peça” mais fraca do automóvel. Estudos realizados em vários países da
Europa revelam que em 99% dos acidentes a falha é humana, ou seja, do condutor.
Vale, portanto, mudar o condutor, ou melhor, o seu comportamento. Mas, como
sabemos, é esta a “peça” mais difícil de mudar. Isto não é um problema europeu.
É universal.
**(Os dados citados nesta matéria são
do Bundesantalt für Strassenwesen, uma autarquia alemã ligada ao Ministério dos
Transportes. Para o leitor que quiser se aprofundar as informações estão
disponíveis em alemão e inglês. Site: www.bast.de).
Fonte: Jornal Opção
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