sábado, 4 de fevereiro de 2012

O vulnerável pedestre

O novo Estatuto da Mobilidade Urbana, que deverá entrar em vigor em abril de 2012, prevê, em uma de suas diretrizes, que seja dada prioridade aos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado. Portanto, a nova lei propõe uma mudança de paradigma na forma de pensar e agir, para os mais distintos segmentos da sociedade: pedestres, ciclistas, motoristas e condutores, agentes de trânsito e polícia, políticos, administradores urbanos, engenheiros de tráfego, sociólogos, jornalistas, etc. O status quo do trânsito brasileiro é que o automóvel é o senhor de tudo, o todo poderoso, a quem tudo pode e todos se submetem, sem questionamentos. Basta andar atento no trânsito de nossa cidade e poder-se-á verificar o quanto esta tirania do automóvel – e por que não dizer também das motos – esta arraigada no cotidiano dos bauruenses, em geral.

Há, adicionalmente, o descaso crônico com o pedestre. Para que o poder público não tenha que cumprir a sua obrigação de manter o passeio público, criou-se uma lei que impõe ao dono do lote construir passeio público em frente ao seu imóvel e manter o revestimento do passeio sem rachaduras, saliências, degraus ou rampas, bem como adequá-lo às normas da Lei 2371/82. Mas, são poucos os que cumprem seu dever de cidadão. A Prefeitura é a primeira a dar o exemplo negativo, em relação ao seu patrimônio. Não cumpre e nem mesmo faz cumprir a lei. Os buracos são uma constante, os degraus e rampas para acesso ao lote, além de mato, são armadilhas constantes ao pedestre.

Além disso, o pedestre convive diariamente com automóveis e motos em cima dos passeios, que lhes impinge o ônus de circular pelo leito carroçável, submetendo-se ao risco de ser atropelado ou mesmo cair. Mas onde acontece isto? Em toda a cidade, principalmente, nas vias onde existem guias rebaixadas para estacionamento no interior do lote. Isto pode ser claramente visto nas avenidas Duque de Caxias, Getúlio Vargas, Comendador Martha e outras tanto. Há vagas na frente de lotes onde mal cabe um automóvel Smart ou Mini. No entanto, lá estacionam veículos que ocupam toda a largura da calçada. Não há fiscalização. Azar do pedestre, que não tem a quem reclamar.

A ciclofaixa da Comendador é constantemente e em vários pontos interrompida pela presença de veículos estacionados, sem a menor consideração com o ciclista. Este mesmo ciclista trafega no passeio da Getúlio, desrespeitando o pedestre. Segundo o Código de Trânsito, as bicicletas devem trafegar pelas ruas. Somente poderiam trafegar sobre as calçadas quando autorizado e devidamente sinalizado pelo órgão de trânsito. O que se vê são marmanjos colocando, o tempo todo, em risco os pedestres que diariamente fazem suas caminhadas no local. O professor de Engenharia de Transportes da Universidade da Pennsylvania, Vukan Vuchic, uma das maiores autoridades sobre o tema, diz que o espaço público é algo sagrado que pertence a todos e não pode ser usado para atender aos interesses de algumas poucas pessoas. Não é o se aqui se verifica, onde poucos se apropriam o espaço que é de todos. Na verdade, prevalece a lei do mais forte. O caminhão e ônibus não respeitam o automóvel; este não respeita a moto, a bicicleta e o pedestre; a bicicleta, por sua vez, não respeita o pedestre. Este último é o usuário mais vulnerável no sistema de trânsito. Não há quem o proteja. Só resta a ele pedir a Deus pela sua integridade. Seria desejável que Bauru começasse a se preparar para se adequar à nova lei que, aliás, tem como mister fazer prevalecer nada mais nada menos que o bom senso, há muito fora de moda em Bauru. 

O autor, Archimedes Azevedo Raia Jr., é engenheiro, mestre e doutor em Engenharia de Transportes pela USP, professor, pesquisador, coordenador do Núcleo de Estudos em Trânsito, Transportes e Logística da UFSCar. E-mail: raiajr@ufscar.br

Fonte: JCNET

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